O diamante de cuidado é uma forma de pensar o arranjo institucional para prover cuidados, especialmente para aqueles precisam de cuidados de maneira intensiva, como crianças e pessoas idosas, que envolve Estado, mercado, famílias e setor sem fins lucrativos (RAZAVI 2007).

Um losango vermelho em gundo roxo ilustra o conceito de diamante de cuidado. Cada um dos vértices representa uma instituição: 1) Famílias/domicílios; 2)Estado; 3)Mercado e 4) Setor sem fins lucrativos. Imagem adaptada de Razavi 2007.Esses quatro vértices desempenham papéis e têm responsabilidades diferentes. Eles podem, inclusive, se sobrepor em algumas instâncias. A ideia não é assignar funções e atribuições estanques para cada um desses atores, mas reconhecer que é necessário pensar uma arquitetura institucional para os cuidados que vá além das famílias.

Em países como o Brasil, a maior parte do trabalho de cuidado é executado pelas famílias, e dentro das famílias essas atividades em geral recaem sobre as mulheres. Algumas famílias privatizam esse trabalho por meio da contratação de outras mulheres, como trabalhadoras domésticas, ou de serviços como creches e instituições de cuidado para pessoas idosas. Outras famílias dependem integralmente do trabalho não remunerado de mulheres como mães, avós e filhas.

Razavi enfatiza que o Estado participa do diamante de cuidado como provedor de cuidado, ao estabelecer serviços como creches e políticas públicas de bem estar social, e como tomador de decisão a respeito da própria arquitetura institucional dos cuidados. Por meio de decisões sobre orçamento público, o Estado decide se há espaço fiscal para o estabelecimento de creches, por exemplo, determinando assim se o Estado ocupará seu lugar no compartilhamento do trabalho de cuidado ou se esse trabalho será deixado para as famílias e exigido das mulheres. O Uruguai, por exemplo, ao criar o Sistema Nacional Integrado de Cuidados (SNIC), reconheceu a necessidade reduzir a sobrecarga de trabalho não remunerado de cuidado realizada por mulheres, estabeleceu diretrizes para os serviços de cuidado prestados pelo mercado e buscou incluir a sociedade civil na tomada de decisão sobre o SNIC.

Embora Razavi tenha tratado do vértice de mercado como um provedor de serviços de cuidados, nós argumentamos é que possível (e preciso!) também entender o mercado como um tomador de decisões sobre a arquitetura institucional dos cuidados, embora não no mesmo nível do Estado, mas com capacidade para influenciar como as trabalhadoras, trabalhadores e suas famílias experimentam os cuidados. Isso porque as empresas e organizações podem desempenhar um papel fundamental na redistribuição do trabalho de cuidado, por meio de políticas institucionais que promovam licenças, combatam a discriminação no trabalho, implementem flexibilidade para possibilitar o equilíbrio entre vida laboral e o cuidado e incentivem a plena participação dos homens no trabalho de cuidado.

O quarto vértice inclui organizações sem fins lucrativos, que poder ser organizações da sociedade civil, sindicatos, movimentos, ONGs, associações locais e outros grupos que por meio de sua ação política ou filantrópica realizem serviços de cuidados como creches, cozinhas comunitárias, entre outros. Nesse vértice, podemos incluir inciativas comunitárias e, partir disso, pensar em como o desenvolvimento local com participação de mulheres e uma forte perspectiva de gênero pode contribuir para melhorar a qualidade dos serviços de cuidados disponíveis e promover a equidade de gênero por meio da redistribuição do trabalho de cuidado.